Luís Filipe Sarmento

لويس فيليب سارمنتو


Luís Filipe Sarmento
As poeiras aparentemente ocultam os fantasmas
e a embriaguez da notícia falaciosa, as vítimas do assédio
distinguem os trapos engomados da «civilização»
que distribuem dinheiro falso. Compram sexo
e decadência, minam as cidades marítimas de suicídios
e arrependimento, prometem jogos que deslumbram
os que saúdam a morte como se fosse a primeira manhã
do futuro. O que eles não sabem é que por estas terras
se desenvolveu a arte do engano, a artimanha do sorriso
que burla, contra todos os invasores invadidos
por novos registos que a história não deixou escapar.
São muitos séculos de guinadas ao tempo, de fugas
ao imprevisto, de conhecimento do mapa das areias
movediças, de passadiços e subterrâneos, são muitos
séculos a reinventar oportunidades.
Este é o verdadeiro jogo no casino de uma terra
que não abdica da sorte nem da crença:
Tradição nem sempre límpida nos seus rituais,
mas que preserva o regresso às praias, à pesca,
ao sonho que faz deste território uma nação
de partidas e chegadas. Donde o mar…

Luís Filipe Sarmento, «Casa dos Mundos Irrepetíveis», 2015

سبعة أيام في المدينة/ترجمة عزيزة رحموني
لويس فيليب سارمينتو

في نسخة اخرى*
*



Sete dias na cidade
LUÍS FILIPE SARMENTO


O nome diariamente pronunciado
repete a identificação do conjunto das ruas
que transmuta o suor dos que passam
em calcário corrompido. Esta cidade
tem um substantivo que a denomina
numa reprodução impossível dos dias.
A luz que amanhece a minha cidade
sublinha a diferença das suas esquinas:
a loja que fechou, o vizinho que morreu,
o jovem casal que chegou, o incêndio
que deflagrou, a esplanada que não está
porque chove. Chega a noite quase igual
para repetir o prefácio de um dia diferente.

Luís Filipe Sarmento
As poeiras aparentemente ocultam os fantasmas
e a embriaguez da notícia falaciosa, as vítimas do assédio
distinguem os trapos engomados da «civilização»
que distribuem dinheiro falso. Compram sexo
e decadência, minam as cidades marítimas de suicídios
e arrependimento, prometem jogos que deslumbram
os que saúdam a morte como se fosse a primeira manhã
do futuro. O que eles não sabem é que por estas terras
se desenvolveu a arte do engano, a artimanha do sorriso
que burla, contra todos os invasores invadidos
por novos registos que a história não deixou escapar.
São muitos séculos de guinadas ao tempo, de fugas
ao imprevisto, de conhecimento do mapa das areias
movediças, de passadiços e subterrâneos, são muitos
séculos a reinventar oportunidades.
Este é o verdadeiro jogo no casino de uma terra
que não abdica da sorte nem da crença:
Tradição nem sempre límpida nos seus rituais,
mas que preserva o regresso às praias, à pesca,
ao sonho que faz deste território uma nação
de partidas e chegadas. Donde o mar…

Luís Filipe Sarmento, «Casa dos Mundos Irrepetíveis», 2015